Blog de Ouro 2015: Melhor Filme

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Filme

.

[A]o seguir doze anos da vida de um garoto, Richard Linklater constrói uma sociedade onde cada pessoa apresenta virtudes admiráveis e ensinamentos de que o ser humano não precisa ser aquele que todos querem que ele seja, nem se amedrontar em tocar sua vida em meio a um senso comum que diz que tudo dará errado. Novos tempos existem e vão chegando, e nós, quando percebemos, já estamos inclusos nele. Querendo ou não, a adaptação a um novo meio fala mais alto, e como no final tudo dá certo, percebe-se que há sim várias formas de ser feliz e fazer tudo valer a pena. [Brenno Bezerra]

.

[U]m dia com muitas nuvens no céu, ao som de ‘Yellow’, do Coldplay. Vemos um menininho de olhos claros, sob a grama da escola apreciando aquela vista, imaginando alguma aventura, vendo o tempo passar. Boyhood é o retrato do coming-of-age, ou seja, da infância à juventude como resume o subtítulo, reforçando a lógica de que o tempo passa depressa para todos nós e é preciso aproveitar cada momento, antes que seja tarde. [Mayara Bastos]

Blog de Ouro 2015: Melhor Ator

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Ator

.

[T]rabalhando com um diretor que, certamente, é um dos responsáveis pela sua consolidação como grande ator, DiCaprio tem aqui a melhor atuação da carreira. Como Jordan Belfort, ele alterna com grande talento entre os registros cômico e dramático. Basta citar três momentos distintos para notar essa versatilidade: qualquer um dos discursos quase hipnóticos para os funcionários, a conversa cheia de entrelinhas com o agente do FBI e a excepcional cena da paralisia facial. [Adriano Garrett]

.

[L]eonardo DiCaprio carrega o filme nas costas, ajustando sua interpretação de modo exemplar a cada uma das fases e facetas do personagem, que começa como um rapaz esperto e ambicioso e logo parte para caminhos fascinantes e, ao mesmo tempo, sombrios. Qual é o limite de alguém que de fato chega a ser o “rei do mundo”? O que satisfaz a sede de adrenalina de quem já fez de tudo e, pior, que pode tudo? [Erika Liporaci]

Blog de Ouro 2015: Melhor Atriz

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Atriz

.

[P]ara estabelecer um ponto de referência para o que é feito aqui, é preciso buscar em nomes mais perversos do cinema de gênero solto pelo mundo, como os mais sádicos de Pedro Almodóvar e Alfred Hitchcock. E, se Fincher é genial ao dar descarga em padrões estabelecidos do bom cinema, ele tem a ajuda crucial de Rosamund Pike para isso. Espero que a sua performance sobrenatural seja reconhecida com a força que merece e que ela não seja prejudicada pela busca a um realismo que, confio, não se pretende presente. [Cesar Castanha]

.

[A] atriz, que não havia tido ainda grandes oportunidades na carreira, personifica Amy com inteligência, criando uma personagem dissimulada e de atitudes constantemente mutáveis de acordo com a situação. Além disso, há uma ponta calculada de exagero em sua atuação que a deixa em completa sintonia com o restante do longa. É isso que ajuda a fazer com que o filme finalmente se torne a história dela. [Leonardo Maran]

Blog de Ouro 2015: Melhor Direção

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Diretor

.

[A]o estabelecer o tempo como parâmetro para a feitura de seu filme, para a evolução dos personagens e para a exposição de seus conflitos, por mais triviais que eles sejam, durante as 2h45min de filme, Linklater aposta em um cinema imersivo, de entrega e paixão. A ação do tempo já estava presente na trilogia “Antes do amanhecer”, mas aqui ganha mais relevância dramática por sublinhar toda uma ascensão geracional. [Reinaldo Glioche]

.

[M]uito fácil, para não dizer tentador, se deixar levar e se fascinar somente pela brilhante ousadia do cineasta Richard Linklater em seu mais recente trabalho, Boyhood. Filmado em um período de pouco mais de 40 dias ao longo dos último 12 anos, Boyhood não é apenas um triunfo do ponto de vista técnico, mas uma das viagens mais arrebatadoras por um dos caminhos mais triviais que se possa imaginar: a vida de um jovem de classe média americana, dos 6 aos 18 anos. [Márcio Santos]

Blog de Ouro 2015: Melhor Fotografia

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Fotografia

.

[A] fotografia em preto e branco faz com que cada cena se pareça com uma pintura, o uso perfeito do chiaroscuro aliado ao enquadramento pouco convencional tornam o filme uma obra de arte das mais belas e impressionantes que vi nesses últimos anos. É curioso perceber, por exemplo, que a personagem, deslocada em seu mundo, nunca aparece no centro da tela, ela está sempre à margem tal qual como se sente na vida. E quando ela chora, por perceber que talvez não pertença àquele lugar, não conseguirmos ver seu rosto inteiro, apenas seus olhos, suas lágrimas, seu corpo incompleto. [Eder Alex]

.

[E]m Ida, o sentimento mais presente é o da desesperança. Em relação à vida, ao futuro e ao passado. É como se a vida passasse em branco, nem mesmo as grandes decisões têm emoção ou são recheadas de sentimentos. Simplesmente acontecem. Indiferença. A fotografia contribui para isso. Triste, sombria, sem cor, nevada e gelada, a atmosfera do inverno polonês comunista é devastadora e nada inspiradora. [Suzana Vidigal]

Blog de Ouro 2015: Trilha Sonora

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Trilha Sonora

.

[P]ara o terceiro filme do diretor Jonathan Glazer, a jovem compositora inglesa Mica Levi cria algo altamente representativo do que a trilha para Cinema deve ser: sua música é tão intrínseca à imagem e ao que esta representa, que acaba por ser elemento indissociável da sinergia aterrorizante, absortiva e desoladora que se vê em tela. Os sons dissonantes, incômodos, densos, derivam de seu estilo altamente experimental já conhecido de trabalhos à frente do grupo Micachu & the Shapes, e refletem com a devida estranheza o tanto de ânsias e descobertas por que passa a personagem de Scarlett Johansson – e há um brilhantismo em acompanhar musicalmente a trajetória da protagonista com a mesma sutileza com que ela se desenvolve, ainda que se permitindo maiores variações em momentos mais significativos, como aquele que traz a composição “Love”. Sob a Pele é apenas o primeiro trabalho de Levi para o Cinema, mas já se tornou um desses casos notáveis e referenciais. Um assombro! [Mateus Denardin]

Blog de Ouro 2015: Melhor Ator Coadjuvante

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Ator Coadjuvante

.

[T]ão competente quanto McConaughey é o trabalho de Jared Leto, irreconhecível como Rayon. Além de passar pelo mesmo regime de seu colega de elenco para exibir a magreza doentia do personagem, o ator também transforma sua aparência e sua dicção para dar vida ao personagem transgênero. O trabalho de Leto nos permite perceber que por trás da confiança de Rayon há uma grande solidão e sofrimento, provavelmente nascidos da relação problemática com o pai, sentimentos que tenta sufocar através do seu abusivo e perigoso consumo de drogas, algo que poderá ser sua ruína. [Lucas Ravazzano]

.

[I]nevitável discorrer sobre o filme sem tecer elogios à entrega radical de McConaughey e Leto aos seus respectivos papéis, nos quais se revelam tão bem encaixados que não caímos na tentação de imaginar outros atores em cena. Ambos dotados de nítida beleza, eles precisaram encontrar o avesso de si mesmos, perdendo muitos quilos no caminho e se afastando de qualquer glamour. Uma rápida olhada em suas trajetórias até ali permite constatar que as escolhas de Leto sempre foram mais criteriosas: já foi dirigido por nomes como David Fincher em Clube da luta e O quarto do pânico e Darren Aronofsky em Réquiem para um sonho, pelo qual já merecia vitória junto à Academia. [Patrick Corrêa]

Blog de Ouro 2015: Melhor Filme Nacional

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Filme Nacional

.

[A]inda que o leque de possibilidades sendo ampliado a cada ano no cinema nacional, o thriller ainda é um gênero estranho em nossa cinematografia recente. “O Lobo Atrás da Porta” presta uma colaboração imensurável a ele através de uma narrativa mantida com uma ferocidade que precisa se manifestar progressivamente. O resultado é visto no empenho de um elenco cercado de intérpretes em seus melhores momentos e em uma condução de planos sem cortes que respeita o perigo presente nas interações dos personagens. Em um ano que contou com a exibição de 102 longas nacionais, “O Lobo Atrás da Porta” é de longe o melhor. [Alex Gonçalves]

.

[C]om uma trama efervescente que parece ter saído das páginas de A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues, O Lobo Atrás da Porta é um conto que mescla malícia e criminalidade para desvendar o desaparecimento de uma inocente garotinha. Esse é apenas o pontapé inicial do impressionante exercício narrativo concebido pelo estreante Fernando Coimbra, cineasta paulista que, além da destreza técnica de elaborar planos longos hipnotizantes, merece todos os créditos pela robustez de seu roteiro, extremamente atraente e bem articulado. [Elton Telles]

Blog de Ouro 2015: Melhor Elenco

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Elenco

.

[H]á o romance, quando Gustave está preso e fora do Budapeste e Zero se apaixona por Agatha (Ronan), que não liga para a ascendência árabe (?) do mensageiro, e nem ele da marca de nascença no rosto da confeiteira. A garota é adorável e por uma série de motivos, e por ela Zero fará tudo, até mesmo enfrentar o chefe. E há a aventura: uma fuga da prisão, a perseguição na neve com direito a momentos investigativos e um certo suspense. E isso é possível em parte por causa da excelente escolha dos atores, mesmo aqueles que aparecem muito pouco. Quem já viu os outros filmes do diretor vai gostar de ver alguns atores que participaram trabalham com Anderson anteriormente – Edward Norton, Owen Wilson, Jeff Goldblum e Bill Murray – que mesmo aparecendo pouco fazem muito bem para nós. [Tiago Paes de Lira]

.

[A]nderson é absolutamente criativo em cada quadro de seu novo longa-metragem: cada imagem parece uma pintura ou uma foto com enquadramento perfeito. A simetria de seus quadros, por exemplo, nunca impressionara tanto como desta vez. Para completar o pacote, além das costumeiras participações de Bill Murray e Owen Wilson, temos Ralph Fiennes em uma de suas melhores e mais divertidas performances. É uma das melhores realizações de praticamente todos os envolvidos, o que nos diz muito, visto que o elenco e a equipe envolvidos em O Grande Hotel Budapeste raramente decepcionam. [Matheus Pereira]

Blog de Ouro 2015: Melhor Documentário

SBBC - Blog de Ouro 2015. Melhor Documentário

.

[O] que realmente diferencia A Imagem que Falta de quaisquer outros documentários que investigaram o massacre cambojano é, justamente, o poder extraído de sua encenação. Pois a lógica do filme não é a dos depoimentos, mas sim a da representação daqueles tempos, como se Panh estivesse fazendo um acerto de contas com seu passado. E é exatamente essa a impressão, de que estamos diante de um processo de rememoração que abriga não só a recriação de um passado, como também a chance de ressuscitá-lo, num sentido de que as vidas que lá foram ceifadas precisam ganhar nova voz. É por isso que os bonecos estão lá, pois embora ressaltem a impossibilidade de trazer aquelas pessoas e aqueles momentos de volta, possibilitam que elas e eles tenham também a sua vez. [Yuri Deliberalli]

.

[A] carreira de Rithy Panh está destinada a contar as atrocidades cometidas pelo Khmer Vermelho. Já no primeiro longa-metragem, Camboja – Entre Guerra e Paz (1991), isso fica evidente. A Imagem que falta é uma obra engajada e necessária, na qual o espectador se sensibiliza com o que é relatado. [Houldine Nascimento]