Ainda estamos no quinto mês de 2014 e o ano já se mostra imperdoável para a classe cinematográfica no sentido de perdas e lutos. Dá para listar dezenas de profissionais que contribuíram positivamente com a Sétima Arte e que se depararam com o fim do caminho nos últimos meses. Entretanto, vamos nos ater a quem esse especial é dedicado. Considerado por muitos como o maior documentarista do mundo, o carioca Eduardo Coutinho deixa um legado inestimável e enriquecedor para a cinematografia brasileira e para a História do Audiovisual.
Hoje, dia 11 de maio, Coutinho completaria 81 anos de vida e 52 de cinema. A Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos não poderia deixar a data passar em branco e presta uma singela, mas tenra homenagem a um dos grandes realizadores brasileiros. Na seleção, tivemos de excluir os curtas e médias-metragens assinados por Coutinho em função da inacessibilidade dos filmes. Entretanto, os 17 longas-metragens que compõem sua rica filmografia são lembrados e comentados a seguir por alguns membros da SBBC.
Descanse em paz, gigante.
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Filmografia Comentada
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A Família de Elizabeth Teixeira (2014)
Se Cabra Marcado para Morrer já era um filme sobre reencontro e legado, A Família de Elizabeth Teixeira reafirma este caminho. Ao lado de Sobreviventes da Babilônia, outra produção de Coutinho para o DVD comemorativo de Cabra lançado em 2014, o diretor usa seu cinema de conversa para revisitar antigos personagens e estabelecer a ponte entre a luta de João Pedro Teixeira e o que restou de sua família após o filme. Entre um depoimento e outro, o cineasta se depara com o próprio legado ao encontrar uma nova Elizabeth Teixeira, professora influenciada pelo filme original que segue a luta do avô João Pedro de seu jeito, levando adiante a mensagem divulgada por sua família e por Coutinho. Gabriel Billy – Dias de Cinefilia
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As Canções (2011)
São 90 minutos de depoimento e música, num único cenário teatral. Sem qualquer alteração, dinamismo ou disfarce, fica claro que esse tipo de produção e ousadia não são, definitivamente, para qualquer um. Há algo singular na sensibilidade de Eduardo Coutinho no garimpo de histórias de vida e, no caso específico de As Canções, na escolha de pessoas que sabem cantar as músicas da sua vida. Consegue fazer rir e emocionar com histórias de gente simples, contos cotidianos. Cada personagem canta a canção que marcou uma fase da vida e, por isso, tem o tom genuíno de quem improvisa uma nota, resgata um sentimento no fundo da alma e encontra um verso para transmiti-lo genuinamente. Difícil ser dissimulado num momento desses. Por isso Coutinho é tão genial. Suzana Vidigal – Cine Garimpo
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Um Dia na Vida (2010)
Um Dia na Vida é um trabalho de Eduardo Coutinho dificilmente será exibido comercialmente nos cinemas ou na televisão. Isso porque o diretor gravou um dia inteiro da programação dos canais da TV aberta brasileira e, passando por cada um deles ao longo do filme, expôs muito do que há de errado naquilo que é exibido. Sem nenhum tipo de narração em off que poderia guiar o pensamento do público, Coutinho basicamente mostra que a TV aberta chega a ser uma piada de mau gosto, com programas absurdos que ajudam na alienação das pessoas, além de estimular seus telespectadores de uma forma bastante questionável e perigosa em determinados aspectos. Assim, o diretor faz um documentário do qual é difícil não sair um pouco indignado, e é triste constatar que de 2009 (quando ele gravou a programação) para cá as coisas não mudaram muito. Thomás R. Boeira – Brazilian Movie Guy
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Moscou (2009)
Eduardo Coutinho faz de Moscou aquele que pode ser considerado um dos seus documentários mais experimentais. Isso dentro de uma ampla filmografia que enriqueceu e consolidou o gênero no cinema nacional. Nesta produção, vinda após o sucesso de Jogo de Cena, Coutinho propõe ao grupo teatral Galpão a preparação para uma montagem de As Três Irmãs, do russo Anton Tchékhov, durante três semanas. Não haverá qualquer apresentação ao público e o que visualizamos é um filme que condensa em um pouco mais de uma hora os registros de bastidores em que intérpretes repassam e encenam o texto de Tchékhov ao mesmo tempo em que não resistem a oportunidade de compartilharem memórias ternas ou dolorosas. É o que basta para que Coutinho novamente ressalte em seu registro a mescla entre ficção e realidade.Alex Gonçalves – Cine Resenhas
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O improviso, o acaso, a relação amigável, às vezes conflituosa, entre os conversadores dispostos, em tese, os dois lados da câmera – esse é o alimento essencial do documentário que procuro fazer.
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Jogo de Cena (2007)
Com “Jogo de Cena”, Eduardo Coutinho experimenta os limites dos gêneros, ao misturar depoimentos de pessoas reais com atrizes interpretando o texto. O objetivo, diriam alguns, poderia ser descobrir o que é verdade e o que é encenação. Mas, o que é realmente verdade quando estamos na frente de uma câmera? Este, talvez, seja o maior questionamento do filme. Principalmente, quando as atrizes mais conhecidas expõem um pouco da própria experiência, como a preocupação do colírio de Marília Pêra, a dificuldade de Fernanda Torres que pede para repetir várias vezes (e tudo permanece no filme) ou a revolta de Andréa Beltrão por ter chorado. Tudo de maneira simples, direta, com pouca variação de planos, no palco de um teatro, mais simbólico impossível. Essa capacidade que Coutinho sempre teve de brincar com as possibilidades em cena que o fez marcar mais uma vez a história do cinema brasileiro. Amanda Aouad – CinePipocaCult
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O Fim e o Princípio (2006)
Circularidade é o que o filme propõe. Vida e morte. Conhecimento e ignorância. Personagem e diretor. Fim e princípio. Para mim um está contido no outro, não existe separação: morte está na vida, vida está na morte, etc. Não sei se pode chamar de técnica ou de método, parece meio insuficiente, logo prefiro magia: a magia de Eduardo Coutinho plenamente realizada em O Fim e o Princípio. Colocado como meta inicial pelo diretor – “Eu quero intimidade” -, o filme alcança todos os níveis de intimidade. A universalidade do particular é explícita: os anseios, os desejos, os medos, as paixões, os amores, as realizações, as ilusões, enfim, as vivências. A filosofia está no cinema, o cinema está na filosofia e os dois estão em Eduardo Coutinho. Erasmo Penteado – Vision de Cinematique
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Peões (2004)¹
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Equilibrando imagens de arquivos e outros documentários – de modo a estabelecer as motivações e ideologia da luta conjunta da classe operária, sobretudo nas greves de 1979/80 -, com entrevistas individuais realizadas pelo documentarista – propostas a estabelecer as singularidades e dramas de cada um daqueles que se envolveram nesta luta por seus direitos – e inteligentemente contextualizadas no ano da consagração do movimento como liderança política, Eduardo Coutinho realizou, com o seu Peões, um retrato fundamental para uma classe tão importante em nossa sociedade e suas principais realizações, conseguindo fazer observações imprescindíveis a respeito das más influências da ditadura em relação ao trabalho operário, do excesso de poder privado e da necessidade de lutar por seus direitos, tudo isso de forma extremamente sensível, como Coutinho bem sabe fazer. Leonardo Lopes – LoGGado
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Peões (2004)²
Peões não é um filme militante, oportunista ou panfletário. O documentário de Eduardo Coutinho não busca selecionar somente entrevistas ideologicamente favoráveis ao ex-presidente Lula, numa espécie de propaganda partidária. Há uma ovação muito honesta dos depoentes em relação ao antigo líder das famosas greves nas fábricas do ABC paulista. Mais do que as revoltas por si, Coutinho mantém a tradição de seu cinema, encontrando o indivíduo dentro do coletivo justamente para a formação de um coletivismo heterogêneo. Assim, Peões mostra como o espírito revolucionário presente nas greves permanece forte dentro do coração de quem as protagonizou, visto que vários permanecem marxistas. Dando voz ao povo, oferecendo o protagonismo político merecido pela classe trabalhadora, Coutinho filma o registro do pensamento que acabou levando Lula ao poder. Júlio Pereira – Cinetoscópio
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Todo filme de ficção é também um documentário. Todo filme histórico de ficção é uma contradição em termos, porque todos acabam sendo um documentário de sua época, acaba não sendo apenas uma ficção.
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Edifício Master (2002)
Edifício Master. 12 Andares. 23 por andar. 276 conjugados. 500 pessoas. Localizado em Copacabana, um dos bairros mais populosos do Rio de Janeiro, quiçá do Brasil. Durante sete dias, Eduardo Coutinho e sua equipe entrevistaram os moradores. Edifício Master. Outrora sombrio agora luminoso. Edifício Master. Pessoas comuns, invisíveis, talentosas, batalhadoras. Edifício Master. Volta por cima. Amores. Amizade. Desilusões. Angústia. Sonhos. Realidade. Vida. Morte. Solidão… Solidão no meio de tantos. Edifício Master. Memórias. Nostalgia. Tristeza. Felicidade. Novas perspectivas. Saudade… Edifício Master. Poesia. Pintura. Literatura. Televisão. Cinema. Música. Edifício Master. Edifício Mestre. Eduardo Coutinho. Inesquecível. My Way. Celo Silva – Espectador Voraz
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Babilônia 2000 (1999)
Em 31 de dezembro de 1999, cinco equipes lideradas por Eduardo Coutinho se espalharam pelo Morro da Babilônia, comunidade carente do Rio de Janeiro. Os produtores diziam aos moradores que o intuito das filmagens era saber a expectativa de cada um sobre a chegada do novo milênio. Obviamente um pretexto para conhecer a vida desses personagens. O nome do documentário também diz respeito à antiga cidade-estado Acadiana, cujo declínio se deu por conflitos religiosos. Além disso, o diretor e os demais envolvidos na produção lançavam perguntas sobre religião. Daí surgiram afirmações curiosas, como a da ex-hippie Fátima, que acreditava que em breve a humanidade chegaria ao fim. Ou então o comovente depoimento de Conceição, que não enxergava mais sentido na vida: “Peço todo dia para [Deus] me levar. Ficar sozinha aqui pra quê?”. Babilônia 2000 está entre os melhores trabalhos de Coutinho. Houldine Nascimento – A vida em 24 fps
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Santo Forte (1999)
Para um ateu convicto como o Coutinho, é muito curioso o interesse pelas religiões e, mais que isso, pela relação das pessoas de uma comunidade pobre com suas crenças. Mas esse filme ultrapassa a mera descoberta dos grandes personagens anônimos, com histórias sempre incríveis e sua entrega para a câmera, porque a equipe de filmagem se faz presente em cena, percorrendo um morro da zona sul do Rio de Janeiro em busca de gente e seus relatos. Assim, Santo Forte coloca em questão as próprias facetas da narrativa documental, mas sem autoimportância. E eles encontram ali um microcosmo que representa muito bem um povo tão apegado às forças do crer, passeando pelas mais variadas religiões. Saravá, Coutinho. Rafael Carvalho – Moviola Digital
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Boca de Lixo (1993)
Mais do que desnudar uma realidade ignorada e desconhecida por muitos, o principal mérito do documentário é dar a essas pessoas o espaço para que elas se coloquem com naturalidade diante nós. Deixamos, então, de vê-los como indivíduos distanciados de nossas vidas para perceber esses sujeitos como pessoas iguais a nós, que não querem ser vistas como marginalizados ou criaturas que reviram lixo, mas como indivíduos merecedores de respeito e dignidade, com anseios, desejos e talentos similares aos de qualquer um, devolvendo-lhes assim a humanidade que costumeiramente lhes é constantemente negada. Ao diminuir as distâncias que nos separam daquelas pessoas, Coutinho torna a realidade em que vivem ainda mais inaceitável. Lucas Ravazzano – Cinemosaico
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Na minha experiência, verifiquei a extraordinária riqueza das falas de analfabetos, sobretudo em regiões menos industrializadas. Assim, é mais tentador investigar um pequeno tema do cotidiano no Nordeste, por exemplo, do que um grande tema em São Paulo.
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O Fio da Memória (1991)
Em O Fio da Memória, o fragmento é o instrumento de investigação da câmera de Eduardo Coutinho sobre a experiência negra no Brasil. E é do conjunto de fragmentos que testemunhamos cem anos se passarem da abolição da escravatura e a condição social do negro brasileiro se estancar no racismo velado e na marginalização. Nesse sentido, o fato do filme ter como um de seus motores a memória de Gabriel Joaquim dos Santos – o filho de escravos que escreveu um diário e teve seus restos mortais jogados num saco plástico sem identificação – serve justamente como metáfora da ausência de uma identidade étnica da população negra brasileira. É aí que Coutinho atesta com brilhantismo a falência axiológica brasileira: ao negro preocupado com a preservação do seus registros não resta o mínimo de dignidade. Yuri Deliberalli – Discurso Cinematográfico
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Santa Marta – Duas Semanas no Morro (1987)
Uma análise comparativa de outros documentários sobre o tema com Santa Marta revela o aspecto único da obra de seu cineasta. Pois, se diretores em geral se atêm a dados de pesquisa e fatos em curso, a fim de conferir relevância a sua denúncia, a Coutinho basta o relato. Em dar voz e visibilidade a uma gente excluída – e cumprimentá-la, beijá-la, abraçá-la de fato -, ele tira esse povo da margem, e não apenas pela duração de um curta-metragem; esse contato tem o intuito e o poder de ser um transformador na vida dos indivíduos retratados. Assim, o caráter investigativo vem apenas em terceiro plano. Em primeiro e em segundo, o fator humano, este, sim, o diferencial de sua obra. E ninguém fez isso como Eduardo Coutinho. Rodrigo Torres – Cineplayers
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Cabra Marcado Para Morrer (1985)
No filme, a família de um líder camponês assassinado ilustra a fragmentação de um povo a partir da desigualdade, da luta de classes e da repressão ditatorial. A partir de gravações interrompidas em 1964 por conta do golpe militar, o documentário traça um paralelo entre passado e presente através da junção das poucas imagens registradas naquele ano por Eduardo Coutinho, suas lembranças e depoimentos das pessoas envolvidas a época na produção. Assim, vê-se tanto uma análise ampla da realidade de trabalhadores vilipendiados por latifundiários quanto um estudo restrito das consequências arcadas por cada indivíduo, daí Jean-Claude Bernardet afirmar que o título é um divisor de águas dentro do gênero documental, dada sua tendência híbrida na qual coexistem as naturezas moderna (abordagem coletiva) e contemporânea (abordagem individual). Dario Façanha – Sétima Crítica
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Teodorico, o Imperador do Sertão (1978)
Há uma clausura no nordestino. Alguém que o tempo e o progresso esqueceram. Em Theodorico, Imperador do Sertão há duas vezes mais clausura: (1) a do Nordeste, e tudo que isso impõe e (2) A clausura do sertanejo ser subserviente ao major Theodorico Bezerra. O longa foi filmado como parte do programa Globo Repórter. Coutinho em grande parte colaborou para um novo jeito de fazer TV, mas mais que isso, em Theodorico encontramos o ponto de partida da própria caligrafia de seu cinema. Em certo ponto, Coutinho rejeita de uma vez por todas a publicidade e a afetação, dando preferência a um cinema simples, bruto e direto. Não há a necessidade de enquadramentos substanciosos e chamativos: o que lhe é necessário é somente o confronto com o seu personagem ou seu signo. Victor Bruno – Ornitorrinco Cinéfilo
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Creio que a principal virtude de um documentarista é a de estar aberto ao outro, a ponto de passar a impressão, aliás verdadeira, de que o interlocutor, em última análise, sempre tem razão. Ou suas razões. Essa é uma regra de suprema humildade que deve ser exercida com muito rigor e da qual se pode tirar um imenso orgulho.
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Faustão (1971)
Em Faustão, exemplo singular de sua carreira pré-documentário, Coutinho já demonstrava talento pra destrinchar a natureza humana de personagens reais e/ou fictícios. Como em seus docs, o compartilhar das dores e reflexões intrínsecas ao homem é o grande mote de Faustão, faroeste que conta a história do cangaceiro Faustino Guabiraba, cangaceiro com sutis traços de Robin Hood da caatinga. Produto do meio e consciente da própria desgraça, ele flerta com a barbárie, mas mantém um rígido código moral. A mais marcante de suas muitas reflexões sobre a vida está naquela que cede a mulher que lhe pediu um filho. “Minha flor, essa vida não deixa. Cada dia num lugar, polícia atrás. Depois que me matam, ainda vão buscar os filhos. Um despotismo da desgraça. E se escapar, ainda tem a seca. E se Deus der a benção, o barrigudinho cresce para ser trabalhador triste de sol a sol ou vai pegar no trabuco tal qual o pai. Não é o homem, é o Sertão”. Conclusão pertinente de alguém que abraçou a caatinga como campo de batalha. João Paulo Barreto – Película Virtual
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O Homem que Comprou o Mundo (1968)
Pensar a carreira de Eduardo Coutinho como documentarista traz à tona as sutilezas do realizador para investigar a fundo o ser humano em diversas óticas e motivações. Porém, em um dos poucos exemplares de Coutinho como diretor de um filme de ficção, sua sagacidade para criticar um país que vivia a ditadura militar é admirável. A exemplo de Terra em Transe de Glauber Rocha, com o controle entre o humor negro e a representação lírica e principalmente visual do filme, Coutinho faz de O Homem que Comprou o Mundo um paralelo com o Brasil da época e profetizou com extremo pessimismo o que viria – e acertou. O homem que ficou rico da noite para o dia e que gostaria de usufruir um novo tempo após o casamento foi impedido pelo governo. Em questão de minutos estava à frente de uma burocracia inexplicável e no interesse político mais incrustado na representação de um país mergulhado na miséria. Dos militares hipnotizados pelo futebol à mídia manipuladora, Coutinho fez um filme sobre ontem e hoje. Pedro Tavares – Cinema O Rama
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