Top SBBC 2011: #1 e #2

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Cisne Negro • de Darren Aronofsky

[P]ara muitos, a perfeição é somente uma ideia, condição que é uma verdadeira utopia, portanto deve ser almejada, uma vez que não existe. Sendo analisado por um ponto de vista um tanto simples, o filme Cisne Negro, de Darren Aronofsky, retrata uma história da jovem bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) em busca da perfeição. Porém, a partir do momento em que o seu diretor e coreógrafo Thomas Leroy (Vincent Cassel) acrescenta um elemento sentimental a esta equação (é dele tal frase: “a perfeição não é somente uma questão de controle. É também uma questão de se deixar levar. Surpreenda a você mesma de forma a surpreender a audiência. Transcendência! Poucos têm isso dentro de si”), Cisne Negro deixa de ser sobre balé e passa a ser um suspense psicológico sobre a desintegração emocional de sua personagem principal. O filme nos surpreende e nos deixa sem estrutura. A gente mergulha junto da viagem de Nina e só ficamos com uma constatação: a perfeição deixou de ser uma utopia. Ela foi alcançada. Todos nós sentimos. {KAMILA AZEVEDO}

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A Árvore da Vida • de Terrence Malick

[A] Árvore da Vida se constitui como obra das mais abertas e passíveis de descobertas a cada revisão. Malick faz aqui o seu filme mais ambicioso e mesmo que dialogue com seus outros trabalhos no sentido de aproximar o homem da natureza, essa relação foi aqui intensificada pelo peso que a própria Criação possui sobre a vida das pessoas. Não é uma obra fácil, mas constitui um prazer imenso acompanhar os movimentos de uma narrativa que questiona a todo tempo a existência humana. Terrence Malick, que aqui assina roteiro e a direção, constrói uma narrativa engenhosa, com a sua habitual fragmentação temporal, acompanhada de uma mise-en-scène livre. Muita gente tem acusado o filme de vender sua beleza extrema a troco de um vazio narrativo. Mas a beleza das imagens parece estar mais a serviço de uma história que desvenda a relação do homem com o espaço ao redor. É uma grande experiência estético-emocional, não somente pela beleza formal da jornada de seus personagens, mas porque não se esgota com facilidade. {RAFAEL CARVALHO}

Blog de Ouro 2012: Melhor Filme

[O] filme que todos elogiaram, se impressionaram e idolatraram. O filme que encabeça o primeiro lugar na maioria absoluta das listas de melhores do ano. A redescoberta do talento de Aronofsky – que já nos apresentou filmes memoráveis que foram renegados por algum tempo. A volta e a consagração absoluta de Portman e o trabalho de uma equipe empenhada. Já pode ser considerado um clássico? Difícil dizer pela sua complexidade e o momento em que ela se insere. Mas é, sem dúvidas, um grande filme. Mais uma vez, Darren se supera, e entrega algo além das expectativas. Um filme de terror psicológico artístico e fascinante. Mas qual é a verdadeira magia de Cisne Negro, afinal? É a subjetividade que ele passa para cada espectador, é a visão única que cada um tem pela obra, são as explicações diferentes para uma mesma pergunta. São todos os seus aspectos técnicos, aliados a uma performance extraordinária, que se desgasta e no final alcança o seu ápice, é a forma única de filmar de Darren, é a trilha de Clint que emociona sem precisar se sobressair da trama. É a própria história que se entrelaça com o clássico do Lago dos Cisnes e se transforma numa só vertente. Uma obra-prima inquestionável. {LUIS GALVÃO • TIAGO LIPKA}

Blog de Ouro 2012: Melhor Direção

[C]ontemplação é a palavra de ordem ao assistir à mais nova obra do cineasta Terrence Malick. Bastante conhecido por sempre nos entregar filmes que buscam a análise e reconhecimento dos símbolos, em que a impassividade do espectador não tem vez, ele vai além e conta a história do universo das relações interpessoais dos indivíduos. Escolhendo a vida de uma família, como se um escopo da sociedade, para retratar a relação dos seres humanos diante dos elementos da natureza e da graça. A vida pré-moldada e determinista versus os caminhos naturais dessa passagem. A experiência cinematográfica causada por A Árvore da Vida é arrebatadora aos sentidos, com o silêncio e visual como grande parte da estrutura narrativa. O universo se iguala ao ciclo do homem na Terra, onde o nascimento e a morte se unem pela complexidade da vida. O que Malick conseguiu com seu filme é digno dos grandes diretores. {RICK MONTEIRO • JOSÉ FRANCISCO BERTOLO}

Blog de Ouro 2012: Melhor Ator

[A] triste história de amor de Blue Valentine certmanete não seria tão arrebatadora sem os mesmos protagonistas. Ryan Gosling e Michelle Williams, viscerais, entregam-se ao filme livres de qualquer vaidade – afastando toda espécie de glamorização da situação. Da juventude de sonhos e de perspectivas, da paixão pulsante e do encanto de uma canção que os dois compartilham em uma calçada, à decadência física e emocional que se observa em cada olhar e inflexão, os atores parecem absorver cada partícula de ressentimento e de condescendência que se formou durante aqueles anos e transpor a seus personagens com um realismo e sensibilidade perturbadores. As ações de Ryan Gosling convergem em uma mistura de histeria, euforia e impulsividade, em uma performance que confirma o posto de um dos melhores atores de sua geração. {MATEUS DENARDIN • MÁRCIO SALLEM}

Blog de Ouro 2012: Melhor Atriz

[N]o epicentro de Cisne Negro está a performance extraordinária de Natalie Portman. A metamorfose de sua personagem deve muito à sua atuação, que começa o filme pintando a ingenuidade de Nina por meio de voz e postura e gradativamente abandona tais qualidades ao ver sua sexualidade explorada. O mais interessante desta jornada, porém, é como se dá o relacionamento com sua mãe, a qual estabelece vínculos conflitantes com a filha no que diz respeito ao apoio à arte dela e, ao mesmo tempo, a repreensão tendo como base sua resignação diante do próprio sonho de ser bailarina. Traduzindo perfeitamente a experiência física, emocional e sensorial de Nina, Portman consegue passar todo o medo e a insegurança da personagem e torna a experiência do espectador tão angustiante quanto a sua. Cisne Negro é completamente dela. {WALLY SOARES • ANDERSON SANTOS}

Blog de Ouro 2012: Melhor Roteiro Original

[M]eia-Noite em Paris é como um sonho em que você mistura todas as possibilidades fantásticas da sua mente, de modo que tudo ainda faz um perfeito sentido, mesmo estando no mais emaranhado conjunto de ideias. Você está dormindo e parece ter a clara noção disso. Mesmo assim, decide viver aquele conto impossível, como se a sua história dependesse de cada momento do que fosse acontecer ali. Deixar sua razão e mergulhar de cabeça neste romance com toques de ficção e nostalgia são dicas valiosas. Além de brincar com o nosso imaginário ao colocar uma pessoa do século XXI frente a frente a importantes personagens do passado, Meia-Noite nos faz refletir sobre a irremediável insatisfação que sentimos com o tempo em que vivemos. Um pouco de fantasia não faz mal e Woody Allen sabe oferecê-la de uma forma bem peculiar. Uma viagem que pode ser apreciada por todos que ainda fazem questão de sonhar de vez em quando. {VICTOR NASSAR • BRUNO KNOTT}

Blog de Ouro 2012: Melhor Roteiro Adaptado

[A]o longo de toda a sua carreira, Pedro Almodóvar construiu um estilo inconfundível, a narrativa singular e histórias marcantes. Nessa altura do campeonato, o espanhol poderia muito bem ter uma carreira acomodada, mas A Pele Que Habito vem para provar que, além de dominar a arte de dirigir, Almodóvar vai além: é um mestre que faz questão de se reinventar. No seu mais novo filme, ele quebra barreiras, arrisca no bizarro e flerta com insanidades, mas sempre mantendo sua ligação com os elementos que formaram sua reputação. E o resultado não é menos que excepcional. Ousado e original, ele mostra uma notável habilidade em usar elementos novos sem abandonar traços característicos. A Pele Que Habito traz a essência de Pedro Almodóvar a cada momento. Um filme sobre natureza humana que reafirma seu amor pelo cinema. É por isso que se firma como um dos grandes momentos da carreira do espanhol. {MATHEUS PANNEBECKER • ALEX PIZZIOLO}

Top SBBC 2011: #3 e #4

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Meia-Noite em Paris • de Woody Allen

[P]aris foi vista ao longo da História, entre outras coisas, como crepúsculo dos deuses, onde artistas desvalorizados nos EUA encontravam a inspiração e um lugar ao sol. Ironicamente, isso acontece com Gil Pendler (Owen Wilson), roteirista de Hollywood de passagem pela Cidade Luz. É também o que acontece com Woody Allen, o diretor de Meia Noite em Paris, que sempre demonstrou adoração pelos grandes mestres europeus da arte, principalmente quando falamos sobre cinema, música e literatura. Desta vez, Woody vai de encontro a eles. Não com melancolia, mas com humor e uma admirável consciência de que a vida é agora. Como Meia Noite em Paris prega, o tempo é o melhor dos críticos. Ele julga e constroi os verdadeiros gênios. Também mostra que o presente passa em um piscar de olhos. Até para os sonhadores. Pode não parecer, mas Meia Noite sugere que podemos viver nossa própria era sem a preocupação imediata do reconhecimento alheio. Afinal, o tempo dirá qual foi a nossa contribuição para a arte. E a vida. {OTAVIO ALMEIDA}

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Melancolia • de Lars von Trier

[O] mais importante em Melancolia é que Lars Von Trier joga limpo com o espectador. Seus mecanismos, sua forma e seu conceito, suas manipulações e seus efeitos, tudo é abertamente trabalhado de maneira a refletir a superfície e a atmosfera. Os personagens parecem não se conhecerem, apenas se devoram mental e fisicamente. Mesmo Justine e Claire, relacionam-se com uma certa antipatia, e dizem eu te amo na medida em que soltam quase um eu te odeio. Mas elas compartilham o medo do desconhecido. Há também a dose de ironia peculiar a Trier. Se o mundo é mau, outro mundo vai acabar com ele. Quanto a isso nada pode ser feito pelo humano. Sua imagem final trata de trazer o espectador para dentro do filme, inseri-lo na proposta. Afora qualquer deslize, o diretor consegue o efeito. O Melancholia vem até nós, sua voz nos ensurdece, sua luz nos cega e sua superfície quase nos toca. {PEDRO HENRIQUE GOMES}

Blog de Ouro 2012: Melhor Animação

[O] diretor Gore Verbinski encontrou na animação uma forma de homenagear – e, com a diversidade e estranheza de elementos e referências, de sublevar – um gênero tão caro ao Cinema americano, o faroeste. O diretor declarou que Rango foi feito tendo-se em vista uma concepção live action, e é fácil percebê-lo desta forma. A resultado das escolhas dos cineastas, é uma obra inovadora — tanto em visual quanto em narrativa. Seu centro, a ser olhado com sensibilidade e entendimento pode identificar-se mais facilmente com uma plateia mais madura, mas há ali também a emoção e a diversão para seduzir os mais jovens. De qualquer forma, a profundidade e deslumbre do faroeste intimista com traços místicos, que refere e celebra o Cinema e criado à luz da inteligência e da tecnologia, não deve ficar à dúvida: é imperdível. {MATEUS DENARDIN}

Blog de Ouro 2012: Melhor Fotografia

[A] característica mais notável da fotografia de Emmanuel Lubezki em A Árvore da Vida (na segunda colaboração com Malick) são os opostos cheios de significado que cria no início da projeção. Primeiro, apresenta os saudosos anos 50 estadunidenses. As cores são saturadas e o verde de sua paleta, exuberante ao extremo. Logo depois, o espectador é jogado no mundo atual. Lá, os tons assumem as cores metálicas, pálidas, monocromáticas e completamente sem-graça. O verde que preenchia a tela nas cenas anteriores desaparece. E os tons cinzentos reinam absolutos. Assim, Malick e Lubezki criam uma aura nostálgica, viva e mística para o passado. Um trabalho sublime que resulta numa das fotografias mais belas da história do Cinema. {MATHEUS FRAGATA • THIAGO VALIATI}